sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Mercado em Franca expansão.

No início de 2010, a relações públicas Isabella Gama, 31 anos, fez uma resolução de ano novo. Há 12 anos morando de aluguel em um apartamento de 45 m² no bairro de Higienópolis, em São Paulo, ela decidiu que havia chegado a hora de comprar seu próprio teto. Encontrou no bairro um apartamento de 100 m² que custava R$ 287 mil. Isabella tinha R$ 60 mil para dar de entrada e queria financiar o restante em trinta anos. Bateu à porta de vários bancos, estudou o plano mais conveniente e trocou o aluguel de R$ 2 mil por uma prestação mensal de R$ 2.800. "E o valor vai caindo ao longo do tempo", diz.
Em 2010, o país registrou um milhão de histórias parecidas com a de Isabella, uma marca histórica para o crédito habitacional brasileiro.
E o desempenho do setor segue com fôlego em 2011. Os financiamentos devem chegar a R$ 80 bilhões, novo recorde, enquanto os bancos estimam que suas carteiras continuem crescendo acima de 10% neste ano. Em 2007, o crédito habitacional respondia por cerca de 2% do PIB. Está agora em cerca de 4% e deverá dobrar, chegando a 8% até 2014, segundo os analistas. Na média, o financiamento imobiliário responde por 5% a 7% dos ativos dos bancos privados, percentual baixo se comparado a países da Europa, onde mais de metade da carteira está atrelada à área imobiliária.

O ritmo das contratações deve continuar acelerado por uma razão básica: "O déficit habitacional de sete milhões de moradias faz com que o setor tenha grande potencial", afirma Eduardo Zaidan, diretor de economia do Sinduscon-SP. Ele estima que o PIB do segmento poderá se expandir 5,9% em 2011.
O movimento de aquisição de imóveis via crédito tem sido forte em todas as regiões do país, tanto para apartamentos novos quanto usados. "O Sudeste continua liderando em nossos financiamentos, mas se vê participação forte do Centro-Oeste, Nordeste e Nordeste", afirma Cláudio Borges, diretor de crédito imobiliário do Bradesco. A demanda por imóveis novos e usados tem sido equilibrada, com pequena vantagem para os usados, segundo Borges.
A expansão alcança todas as classes sociais. No Bradesco, 33,5% do total de imóveis financiados vão para quem ganha entre três a dez salários mínimos, enquanto 34% das residências compradas com crédito estão com clientes entre 10 e 20 salários mínimos; o restante (32,5%), com clientes acima de 20 salários mínimos. "Todos estão aderindo", diz Borges.
Principal agente financiador do setor de construção civil, a Caixa Econômica Federal estima que, considerando-se todas as fontes, a aplicação de recursos chegue a R$ 80 bilhões - 16 vezes maior que o volume financiado em 2003. A média diária de fechamento de contratos está em 4.100, com valor em torno de R$ 290 milhões. No ano passado, a média diária foi de 4.284 contratos e montante de R$ 273 milhões, segundo a assessoria de imprensa da instituição.
Entre janeiro e março, a carteira de crédito imobiliário do Santander para pessoa física totalizou R$ 7,1 bilhões, alta de 32,5% em doze meses e 6,1% em três meses. "As expectativas são muito positivas, já que o mercado de trabalho continua bem, a renda está estabilizada em um patamar elevado, a demanda do segmento é alta e ainda há o bônus demográfico, que também contribui", diz José Roberto Machado, diretor-executivo de crédito imobiliário do Santander. O segmento responde por 8% da carteira do banco, mas há espaço para crescer.
"O crédito a veículos responde por 17% dos ativos totais do nosso banco, enquanto o imobiliário responde por 4,5%. Não são atividades iguais e não estou dizendo que vai chegar a esse patamar, mas mostra que há espaço para crescimento", afirma Luiz Antonio França, diretor de crédito imobiliário do Itaú-Unibanco. No primeiro trimestre, o saldo de financiamento para pessoa física do Itaú chegou a R$ 9,2 bilhões, alta de 15% em relação a dezembro e de 61,8% ante março de 2010.
Entre os clientes de média renda, os reajustes salariais acima da inflação e o aumento do preço dos imóveis têm feito com que muitos financiem a compra de um imóvel melhor e maior que o antigo. Já, no topo da pirâmide, os consumidores de alta renda têm investido em residências de olho na remuneração mensal do aluguel, uma forma de ampliar o portfólio de investimentos. "O crédito habitacional tem penetração em todos os segmentos de renda", diz Machado, do Santander.
O perfil dos compradores é abrangente e reúne pessoas de todas as classes sociais, mas há uma característica comum: a maioria está adquirindo seu primeiro imóvel. "Cerca de 95% dos financiamentos de pessoas físicas estão ligados à primeira residência", diz Machado. No Bradesco, não é diferente: cerca de 90% do crédito está atrelado ao primeiro imóvel. "A maior demanda está na faixa de R$ 180 mil a R$ 200 mil, para a aquisição de um imóvel de valor entre R$ 300 mil a R$ 350 mil", afirma Borges.
O crédito habitacional em ebulição não tem apoiado apenas a compra de imóveis novos. No Itaú-Unibanco, cerca de 80% da originação do crédito imobiliário está ligada a imóveis usados, enquanto o restante está em residências novas. "Há um movimento muito forte em toda a cadeia, e os usados estão muito aquecidos nos últimos meses", diz Luiz Antonio França, do Itaú-Unibanco.
O aumento dos juros e a inflação em alta, por ora, não ameaçam as projeções do setor. Hoje a maior parte do financiamento está ligada à caderneta de poupança e ao FGTS, com juros diferenciados e abaixo do mercado. Para o economista-chefe do Secovi-SP, Celso Petrucci, isso pode criar um efeito psicológico negativo nos compradores, mas nada preocupante. "Como se trabalha com recursos com taxas bem diferentes dos juros praticados diariamente, e os prazos são longos, o impacto é mais psicológico e ocorre quando o comprador está lendo os jornais ou vendo as notícias negativas na televisão, mas deve ser passageiro", diz Petrucci.
O aquecimento do mercado e as perspectivas positivas têm feito surgir dúvidas em relação à necessidade de mais recursos de longo prazo para financiar o setor. "Há uma preocupação a partir de 2013, quando pode haver escassez de recursos da poupança, por isso já estamos trabalhando com o governo para procurar mais mecanismos", afirma França, que também é presidente da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip).
"Essa é uma questão que o mercado já começa a trabalhar antecipadamente com soluções para que o ritmo de crédito se mantenha firme", destaca Cláudio Borges, do Bradesco.


Fonte: Econômico Valor

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